“é preciso ter caos dentro de si mesmo para poder dar à luz uma estrela dançarina “
Friedrich Nietzsche, 1883
O homem é o resultado de suas experiências na vida. Sua existência é o fruto da sua obra para realizar sua essência através da inter-relação responsável com os outros, sendo sua ação impulsionada por suas emoções. O homem precisa viver uma existência autêntica e responsável, onde seu trabalho se baseia em satisfazer suas necessidades internas e os anseios de sua alma.
O significado da nossa existência é revelado no caminho. O homem que não pode demorar-se para conectar-se com seu espaço de vida, faz de sua vida a realização simples e mecânica de atividades com o passar do tempo, é como passar pela vida e não vivê-la.
Na vida tudo está em movimento contínuo e em permanente transformação. O homem como um organismo vivo sensível a essas mudanças deve posicionar-se ativamente na frente deles sem perder de vista a motivação que o move. Para que seus sentidos não fiquem cristalizados, ele precisa estar aberto, ativo em sua capacidade de pensar, questionar e reagir na vida para evitar o tédio característico do vazio existencial. O corpo delimita concretamente a interação da pessoa com o meio ambiente. Nesse mesmo corpo ficam impressas todas as memórias de interrelações e os estados de satisfação ou frustração resultantes delas.
A dança é uma forma de expressão onde o dançarino impulsionado por sua própria energia é ao mesmo tempo instrumento e obra prima. Na dança, o corpo é um instrumento de percepção e ação, o sujeito e o objeto coincidem. A dança também é uma forma de comunicação não verbal usada pelos seres humanos desde sempre. Quando o dançarino se entrega à dança e faz movimentos livres sem raciocínio prévio, ele pode se conectar com sua voz interior e suas necessidades reais podendo manifestar-se intuitivamente e alcançar um estado de autorealização. A dança é caracterizada pelos sucessivos movimentos genuínos, autênticos e instintivos carregados de emoção e significados que expressam a essência do bailarino. Quando os estímulos externos recebidos ressoam internamente, o corpo vibra de tal maneira que os movimentos realizados são espontâneos, orgânicos e fluidos.
Enquanto dançam, os dançarinos devem parar de se preocupar com as coisas cotidianas, esquecer as expectativas de coisas futuras e memórias de eventos passados. Quando conseguem se esvaziar, reforçam seu senso de presença, ultrapassam seus limites individuais e alcançam um estado de plenitude.
A dança é o caminho mais simples para a plenitude, que é a energia em movimento, que flui, sem estar estancada. No livro Zen e a Arte do Tiro al Arco se diz que “a arte da obra interior que não se desprende do artista como a obra exterior, que ele não pode fazer, mas só ser, surge das profundezas que a luz do dia não conhece. ”
A fonte da dança está dentro de cada um … a dançar!
Clarissa Machado – Danza/movimiento Terapeuta
